Notas
Francisco de Vargas: «O EPP promove uma indústria de sequestros no Paraguai»
Francisco de Vargas: «O EPP promove uma indústria de sequestros no Paraguai»
Ministro paraguaio afirma a ÉPOCA que grupo de guerrilheiros que mantém o brasileiro Arlan Fick sequestrado é pequeno, mas tem poder para influenciar a população pobre e promover o terror em todo o país
VINÍCIUS GORCZESKI, DE ASSUNÇÃO (PARAGUAI)
O ministro do Interior do Paraguai, Francisco de Vargas, na sede do governo em Assunção, onde recebeu a reportagem de ÉPOCA para falar sobre as ações do EPP e o combate aos guerrilheiros no país (Foto: Rogério Cassimiro)
O ministro do Interior do Paraguai, Francisco de Vargas, na sede do governo em Assunção, onde recebeu a reportagem de ÉPOCA para falar sobre as ações do EPP e o combate aos guerrilheiros no país (Foto: Rogério Cassimiro)
No fim de outubro, o ministro do Interior paraguaio, Francisco de Vargas, recebeu ÉPOCA na sede do ministério, na capital Assunção. A pasta é responsável por liderar as investigações e as forças policiais na guerra do Paraguai contra o Exército do Povo Paraguaio – que sequestrou o brasileiro Arlan Fick em 2 de abril, na fazenda onde ele morava com a família, no distrito de Concepción (norte do Paraguai). Vargas disse o governo do presidente Horácio Cartes tomou como prioridade a guerrilha, ao intensificar projetos sociais e destacamentos policiais na região com o propósito de erradicar o grupo. O governo oferece US$ 4,5 milhões pela captura, hoje, de 26 membros do grupo terrorista. Abaixo, leia mais sobre o grupo e as investigações do Paraguai para encontrar Arlan Fick.
ÉPOCA – Do que falamos quando falamos do Exército do Povo Paraguaio – onde ele atua, como se organiza e o que representa para o país hoje?
Francisco de Vargas – Para o governo, o EPP representa um grupo criminal com atuações de caráter ideológico. Eles reivindicam a ideologia marxista-leninista, combinada à luta armada contra o governo e contra a República do Paraguai, reivindicando – e apenas reivindicando – a luta de classes, porque suas ações são claramente outra coisa. Até agora, as vítimas do grupo são, em grande maioria, da classe trabalhadora. Dizem defender os mais pobres, mas eles assassinam e sequestram os mais desprotegidos. Há uma clara contradição entre o que dizem e reivindicam e o que realmente fazem.
ÉPOCA- Quantos guerrilheiros compõem o EPP e onde eles atuam?
Vargas – Se falamos do grupo armado, falamos de um grupo que não supera as 30 pessoas, combatentes. É isso o que nos informa os setores de inteligência. Porém, sua rede de apoio logístico é difícil de calcular. Eles têm uma área de influência bem demarcada que é a zona limite entre os distritos de Concepción e San Pedro (norte do Paraguai) – uma das zonas mais castigadas pela pobreza e o abandono. E ali, nas localidades de Paso Tuya, Kuruzu de Hierro, Arroyito, onde se concentram as atividades desse grupo criminal e consequentemente onde a atuação das Forças de Tarefa Conjunta é maior. São zonas semi-urbanas, colônias, que são aproveitadas pelo grupo criminal, que as invadem.
ÉPOCA – Muitos brasiguaios vivem em comunidades da região. Eles são potenciais alvos da guerrilha?
Vargas – No caso de Arlan Fick, seu pai é brasileiro, mas as autoridades daqui o consideram Paraguaio, porque ele nasceu aqui. São pessoas que se dedicam à agricultura. Dentre eles, há diferentes capacidades econômicas entre eles. Alguns têm grandes extensões de terra, e uma das reivindicações do grupo criminal é a luta contrária ao que chamam de utilização de agroquímicos na terra. O que passa é que segundo os criminosos que promovem essa indústria de sequestros, suas armas são contrárias às pessoas com capacidades econômicas. Se há gente de origem brasileira com capacidade econômica é porque pode ter se dedicado a agricultura por muitas décadas. Minha resposta pode ser pouco objetiva, mas muito desses colonos têm dito que ficam preocupados com essa situação, e este é o caso também de Alcido Fick.
ÉPOCA – Um vídeo mostra Arlan com vida. Foi a primeira prova de vida em mais de 200 dias de sequestro.
Vargas – Isso confirma o que temos dito durante todos esses meses. No entanto, se vamos discutir sobre o caso do jovem Arlan Fick, é claro que suas manifestações são coagidas. Ele não está falando livremente. Está lendo um papel preparado para que fosse lido. O que ele diz ali não pode ser considerado como uma manifestação voluntária. O EPP o está usando para dizer o que querem. Mas nós encaramos a divulgação positivamente. Porque, primeiro, nos colocando no lugar dos familiares das vítimas, elas agora têm mais esperança de finalmente recuperar seus filhos no seio familiar, é a prova mais clara que a inteligência do Paraguai está trabalhando. Porque durante todos esses meses falei várias vezes que os informes davam conta de que ele estava vivo. Mas tanto tempo passou até a divulgação da prova de vida que muitos perderam a esperança.
ÉPOCA – O governo tem noção de onde está Arlan?
Vargas – Não quero ser muito específico sobre isso porque isso poderia afetar futuras operações, e não podemos o erro, que foi cometido antes, de relevar nossa capacidade técnica operativa nem as cooperações de outros governos. Mas há um foco de atuação claro da nossa parte.
ÉPOCA – Como combater o EPP, visto que sua atuação se dá em uma região com vastas florestas e qual a maior dificuldade do governo do presidente Horácio Cartes em deter seu avanço?
Vargas – Antes de mais nada, acionando setores sociais. A presença de todas as instituições de estado é essencial, com as áreas de saúde, educação, segurança, programas sociais. É a função e a obrigação do Estado, e com o grupo criminal isso reduz sua influência na população – para diminuir essa aderência ideológica para romper seu apoio logístico. Também se dá atacando sua rede de apoio logístico para ir, pouco a pouco, minando a fortaleza do grupo armado e com isso, finalmente, capturar seus membros e levá-los à Justiça. O que é normal de se fazer num estado democrático de direito, para que cumpram os devidos processos legais. A maior dificuldade é localizar fisicamente o grupo. Eles se movem muito, justamente porque são um grupo pequeno. Com a presença física das forças armadas, da secretaria nacional antidrogas e da polícia nacional, aumentamos nossa chance de capturar os membros que são procurados pela Justiça. Mas é a ação do Estado que vai solucionar o problema de fundo. A captura do bando e o resgate são coisas importantes, mas operativas. Um dado muito relevante é que hoje em dia, entre condenados e processados dessa quadrilha, há aproximadamente 40 membros presos. Sobretudo nos últimos meses, falando das ações deste governo do presidente Horácio Cartes, há oito abatidos, e ao redor de 15 apreendidos. Comparando com o que conseguiu outros governos, são ótimos números.
ÉPOCA – Qual a relação da guerrilha com as Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o narcotráfico?
Vargas – Sua relação é próxima sobretudo com as Farc. Eles têm um vínculo que se tem demonstrado em investigações anteriores, especialmente no de Cecília Cubas (filha do ex-presidente Raúl Cubas. Ela foi enterrada viva por membros do EPP, mesmo após o pagamento de um resgate de US$ 300 mil. A morte de Cecília foi o mais ousado do grupo, e chocou o país).
ÉPOCA – E a relação que se diz com o narcotráfico?
Vargas – Posso falar dos indícios com organizações dedicadas ao narcotráfico. Primeiro porque confluem no mesmo lugar de atuação. Estamos falando de zonas de produção de canabis, onde operam grupos criminais dedicados a isso, e seus atos coincidem no mesmo lugar e tempo. Sabe-se que há vínculos do EPP com organizações criminais similares em outros países, onde esse vínculo – e falo das Farc – com o narcotráfico é real. Todos esses são grupos similares, embora com características próprias. O EPP, por exemplo, tem um manual muito parecido ao das Farc.
ÉPOCA – Que países ajudam o Paraguai a combater a guerrilha?
Vargas – Principalmente o da Colômbia, por sua história em lidar com as Farc, e ela vem na forma de apoio em inteligência. Em oportunidades anteriores, nossos governos trabalharam diretamente nas negociações entre o grupo e o governo, com bons resultados. Em casos vigentes, como no caso do jovem (Arlan) Fick, não houve um período de negociação entre o governo e o grupo, e não negociaremos com criminosos, por isso não recorremos ao governo da Colômbia.
ÉPOCA – O governo brasileiro ajuda o Paraguai?
Vargas – Sim.
ÉPOCA – Que tipo de ajuda?
Vargas – Na parte operativa e técnica, e espero que essa ajuda continue existindo.
ÉPOCA – O governo paraguaio espera acabar com o EPP ainda na gestão do presidente Horácio Cartes?
Vargas – Há uma rede de apoio logístico que eles conseguem por influência ideológica, e também por medo. Eles infundem o temor na população para que ela não colabore com o governo para neutralizar esse grupo. O governo deve conseguir o apoio da população. Isso não se alcança da noite para o dia. O governo atual, em diferença de outros, comprometeu as forças armadas na luta contra o EPP, com uma modificação legal, e com uma clara intenção de que essa luta seja firme e forte até conseguirmos neutralizá-los. O que menos podemos fazer é cometer o erro – cometido por governos anteriores – , onde num espaço de tempo limitado, as forças armadas iam para a região por um ou dois meses e logo voltavam. A região novamente ficava a mercê dos delinquentes. Devemos assegurar a paz, a tranquilidade e a confiança da população. Porque somente com sua colaboração conseguiremos destruir esse grupo.
ÉPOCA – O EPP cresceu mais no governo do presidente Lugo, como se diz na imprensa e no meio acadêmico do Paraguai?
Vargas – Há quem associe (o EPP) ao governo do ex-presidente Lugo, sobretudo porque alguns de seus membros, em algum momento, tiveram contato pessoal com o ex-presidente Lugo, e falo daqueles que hoje estão presos, caso de Lúcio Silva, e outros. Eu não me aventuraria a dizer que cresceu – houve capturas e abatidos -, mas há os que sustentam que a ação poderia ter sido muito mais firme.EPOCA
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